O impacto da pandemia no campo da educação foi notável, sinalizando
para a importância de rever o papel da escola do século XXI. Diferentes
modelos de ensino ganharam destaque, seja pela necessidade de mitigar os
danos causados pelo fechamento desses estabelecimentos e/ou pela
emergência em se adequar às novas gerações de alunos e professores.
Entretanto, esse cenário também deu luz a um debate, iniciado oficialmente há
mais de 27 anos e ainda muito polêmico no meio educacional: a educação em
domicílio ou “homeschooling”.
O homeschooling é o formato de ensino feito em casa, ou seja, o aluno
não frequenta a escola regular. Para assegurar que o conteúdo seja ministrado
de maneira adequada, os pais podem se tornar “professores” desse estudante
ou contratar tutores. Apesar dessa prática ser legalizada em 65 países, como
os Estados Unidos, Austrália e França, países como a Alemanha e Suécia
consideram a prática um crime.
No Brasil, o debate sobre a regulamentação ou não da educação em
casa não é uma novidade, mas ganhou notoriedade por conta do caso da
estudante Elisa de Oliveira Flemer, 17 anos, que foi impedida de ingressar no
curso de Engenharia Civil da Universidade de São Paulo (USP), pois não
frequentava a escola tradicional desde o ano de 2018, estudando em casa por
conta própria. Elisa é portadora do espectro do autismo e recebeu o apoio da
família ao optar pelo homeschooling, por julgar adequado para seu quadro
clínico. Apesar da conquista de uma liminar para efetivar sua matrícula, o caso
de Elisa colocou em voga o debate sobre essa “antiga e nova” forma de
educação.
Para os defensores desse modelo de ensino, o homeschoooling é uma
forma de unir a melhora do desempenho acadêmico com a possibilidade de
moldar a educação do estudante conforme a visão política, religiosa e/ou
filosófica da família.
Apesar do ensino em casa se mostrar academicamente promissor para
a Home School Legal Defense (HSLDA), que em sua pesquisa, apontou que
74% dos alunos em regime de homeschooling conseguem entrar em uma
universidade, esse modelo de ensino põe sombra aos outros papéis da escola,
que vão além do conteúdo programático, livro didático e provas. Além do
conhecimento, a escola é diversidade e acolhimento.
Conforme as diretrizes propostas pela Base Nacional Comum Curricular
(BNCC), além do conhecimento e do pensamento críticos, tópicos como
empatia, valorização e respeito a diversidade e comunicação estão presentes
e, em um ambiente de homeschooling tratar adequadamente todos esses
tópicos é quase impossível, pois o aluno não tem convívio com outras pessoas,
limitando a sua visão de mundo, o que pode impactar, e muito, a sua vida
adulta, acadêmica e profissional.
Outro agravante, sinalizado em uma petição assinada por mais 300
instituições acadêmicas, sindicais, religiosas e ONGs contrárias ao projeto,
aponta para o risco do aumento de casos de violência e abuso sexual infantil,
além de negar a importância do papel do professor e dos profissionais em
educação, contribuindo ainda mais para o próprio sucateamento da educação e
dessa classe de profissionais.
Nós da Fly, acreditamos que a escola vai além do chão da sala de aula,
do quadro, e dos livros. A escola é um espaço de pleno desenvolvimento, que
não nos prepara somente para resolver problemas de matemática ou de
português, e sim, para nos tornarmos cidadãos, cientes da diversidade do
nosso mundo, das suas mazelas e virtudes, além do desenvolvimento das
habilidades socioemocionais na prática, através do convívio com diferentes
pessoas, histórias, sonhos e dores, convívio este, essencial na plena formação
do aluno e ser humano.
E você, o que pensa sobre esse tema tão polêmico?
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